Um bom modo para
compreender a Eucaristia encontra-se num dos seus primeiros nomes: “fracio Panis”.
No início da história da Igreja, o nome dado à Missa, à celebração da
Eucaristia, era “fractio panis”. Termo latino que se traduz como “fração do
pão”.
O rito da “fractio panis”, na nossa Liturgia Eucarística,
acontece pouco antes do rito da Comunhão Eucarística e é acompanhado pela
invocação do Cordeiro de Deus. Trata-se de um rito litúrgico cantado — nem
sempre respeitado em nossas celebrações — que descreve aquilo que o gesto da
fração do pão representa: Jesus é o Cordeiro de Deus que oferece seu corpo para
ser partilhado, repartido entre nós. É um gesto que descreve o sentido profundo
da Eucaristia como doação da vida divina, que se reparte, que é partilhada,
para que todos se tornem um só corpo em Cristo Jesus.
Um
gesto tão importante nem sempre com a valorização que deveria ter nos ritos da
Missa porque muitos padres o fazem com os celebrantes realizando o rito da paz;
proclamam o Cordeiro de Deus sem a fração do pão e com o padre fazendo a
genuflexão preparatória para apresentar o Corpo e o Sangue de Jesus aos celebrantes.
Em resumo: um amontoado de ritos que perdem seu sentido na pressa.
O
que era a “fractio panis”?
A “fractio Panis”, nos tempos antigos, era um gesto
familiar que Jesus transformou em sacramento da doação da própria vida. Antes
de qualquer refeição familiar, o pai de família tomava o pão em suas mãos, dava
graças pelo alimento que Deus concedia à sua família, fruto do seu trabalho,
partia o pão e entregava à sua esposa, aos filhos e a quem participava da mesa.
Em sua família, Jesus via este gesto realizado por São José. Depois da morte de
José, Jesus tornou-se o encarregado familiar para realizar o rito. Um rito que,
possivelmente, ele também celebrou muitas vezes com seus discípulos e
discípulas. Na Última Ceia, o gesto da “fractio Panis” foi transformado em
gesto sacramental memorial.
Eucaristia
como partilha da vida divina
A
Eucaristia torna-se mais bem compreendida a partir do pão, que é o fruto do trabalho humano, como diz a oração da
apresentação das oferendas; pão que serve para alimentar a vida humana. A
fração do pão representa — no sentido de re+presente,
isto é, de tornar presente — a partilha da vida. Aquele pão que é fruto do
trabalho de todos que participam da comunidade celebrativa Eucarística, torna-se
santificado pela presença de Jesus e, deste modo, santifica e une todos que
participam do mesmo altar.
Com
o mesmo gesto diário de repartir o pão em nossas mesas, não somente nos tempos
Bíblicos, mas no nosso hoje, Jesus colocou ali a sua vida, para que o pão
repartido no altar seja alimento divino para a vida humana.
Com
este mesmo gesto, a Eucaristia alcança as mesas de nossas casas, fazendo com
que o simples gesto do pai e da mãe que colocam o pão na mesa para ser
repartido em família, torne toda refeição momento de ação de graças a Deus. Eis
um sentido que deveríamos recuperar em nossas comunidades, ajudando as famílias
a compreender a Eucaristia como rito da família de Deus que comunga a mesma
vida divina e, de outro lado, favorecer a compreensão que cada refeição em
família é momento “Eucarístico”, momento de ação de graças a Deus porque ali se
partilha o pão, partilha-se a vida.
Deste
modo, repetindo, um dos melhores modos para compreender a Eucaristia é a
partir de um dos seus primeiros nomes: “fractio panis”. Como canta a poesia da
música de Pe. Zezinho,scj: “somos a
Igreja do pão, do pão repartido, do abraço e da paz”.
Serginho
Valle
Abril
de 2019
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