6 de abr. de 2019

A Eucaristia é "fractio panis"

Um bom modo para compreender a Eucaristia encontra-se num dos seus primeiros nomes: “fracio Panis”. No início da história da Igreja, o nome dado à Missa, à celebração da Eucaristia, era “fractio panis”. Termo latino que se traduz como “fração do pão”.
            O rito da “fractio panis”, na nossa Liturgia Eucarística, acontece pouco antes do rito da Comunhão Eucarística e é acompanhado pela invocação do Cordeiro de Deus. Trata-se de um rito litúrgico cantado — nem sempre respeitado em nossas celebrações — que descreve aquilo que o gesto da fração do pão representa: Jesus é o Cordeiro de Deus que oferece seu corpo para ser partilhado, repartido entre nós. É um gesto que descreve o sentido profundo da Eucaristia como doação da vida divina, que se reparte, que é partilhada, para que todos se tornem um só corpo em Cristo Jesus.
Um gesto tão importante nem sempre com a valorização que deveria ter nos ritos da Missa porque muitos padres o fazem com os celebrantes realizando o rito da paz; proclamam o Cordeiro de Deus sem a fração do pão e com o padre fazendo a genuflexão preparatória para apresentar o Corpo e o Sangue de Jesus aos celebrantes. Em resumo: um amontoado de ritos que perdem seu sentido na pressa.

O que era a “fractio panis”?
            A “fractio Panis”, nos tempos antigos, era um gesto familiar que Jesus transformou em sacramento da doação da própria vida. Antes de qualquer refeição familiar, o pai de família tomava o pão em suas mãos, dava graças pelo alimento que Deus concedia à sua família, fruto do seu trabalho, partia o pão e entregava à sua esposa, aos filhos e a quem participava da mesa. Em sua família, Jesus via este gesto realizado por São José. Depois da morte de José, Jesus tornou-se o encarregado familiar para realizar o rito. Um rito que, possivelmente, ele também celebrou muitas vezes com seus discípulos e discípulas. Na Última Ceia, o gesto da “fractio Panis” foi transformado em gesto sacramental memorial.

Eucaristia como partilha da vida divina
A Eucaristia torna-se mais bem compreendida a partir do pão, que é o fruto do trabalho humano, como diz a oração da apresentação das oferendas; pão que serve para alimentar a vida humana. A fração do pão representa — no sentido de re+presente, isto é, de tornar presente — a partilha da vida. Aquele pão que é fruto do trabalho de todos que participam da comunidade celebrativa Eucarística, torna-se santificado pela presença de Jesus e, deste modo, santifica e une todos que participam do mesmo altar.
Com o mesmo gesto diário de repartir o pão em nossas mesas, não somente nos tempos Bíblicos, mas no nosso hoje, Jesus colocou ali a sua vida, para que o pão repartido no altar seja alimento divino para a vida humana.
Com este mesmo gesto, a Eucaristia alcança as mesas de nossas casas, fazendo com que o simples gesto do pai e da mãe que colocam o pão na mesa para ser repartido em família, torne toda refeição momento de ação de graças a Deus. Eis um sentido que deveríamos recuperar em nossas comunidades, ajudando as famílias a compreender a Eucaristia como rito da família de Deus que comunga a mesma vida divina e, de outro lado, favorecer a compreensão que cada refeição em família é momento “Eucarístico”, momento de ação de graças a Deus porque ali se partilha o pão, partilha-se a vida.
Deste modo, repetindo, um dos melhores modos para compreender a Eucaristia é a partir de um dos seus primeiros nomes: “fractio panis”. Como canta a poesia da música de Pe. Zezinho,scj: “somos a Igreja do pão, do pão repartido, do abraço e da paz”.
Serginho Valle
Abril de 2019


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