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Mostrando postagens de 2019

Acolhimento na Pastoral Litúrgica Paroquial

Um tema importante da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP) é o acolhimento. Importante e, ao mesmo tempo, pouco compreendido, considerado e reduzido, em muitas comunidades, como sinônimo de ser agradável para com quem vem participar de celebrações. Deste modo, reduz-se a Pastoral do Acolhimento na Liturgia a dar boas-vindas e distribuir folhetos na porta da igreja, antes das celebrações. Isto também faz parte acolhimento, mas para isso não é necessário criar um ministério. Dar boas vindas e distribuir folhetos é apenas uma função que qualquer pessoa pode exercer. Claro que ser agradável é uma atitude recorrente e, digamos, normal de todo bom acolhimento. Mas, no contexto da PLP existe um algo a mais: o diálogo. O acolhimento, no contexto da PLP, é um espaço dedicado ao diálogo, por isso deve ser ocupado por pessoas que conheçam as exigências decorrentes da celebração de todos os sacramentos em razão do compromisso de vida, como é o caso, por exemplo, da Eucaristia, do Batismo, do Mat...

Celebrações terapêuticas ou celebrações da fé?

A Igreja tem registro de curas acontecidas durante celebrações litúrgicas. Hoje, se faz propaganda de celebrações com promessas terapêuticas e curas físicas e espirituais. Não se duvide que Deus possa agir no decorrer de uma celebração litúrgica. Tenho participado de muitas curas espirituais no Sacramento da Reconciliação e, até mesmo, curas físicas em celebrações da Unção dos Enfermos. O mesmo aconteceu em celebrações Eucarísticas. Minha interrogação vai na direção da pretensão de realizar celebrações com promessas de curas e milagres. Considero que ninguém pode ter controle de pretender que Deus aja para curar “naquela celebração”, marcada para “aquela hora” e com alguns ritos introduzidos — nem sempre litúrgicos — em alguma celebração particular. Ninguém pode controlar o Espírito de Deus que age na liberdade e não com agendas de data e hora marcadas.             Além do mais, considero útil servir-se do bom senso, e para ...

Liturgia, fonte da fé

J á tratei desse tema aqui no meu blogger, mas considero relevante voltar a falar sobre a Liturgia como fonte da fé e, em consequência disso, fonte da vida cristã. Uma das funções primárias da Liturgia é construir, alimentar e animar a Igreja viva, formada por pessoas que iluminam suas vidas na fé em Jesus Cristo. Não existe nada de novo nisso, uma vez que se trata de uma proposta presente na Tradição litúrgica da Igreja. Uma bela inspiração Bíblica, a este propósito, encontra-se no encontro de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 21,13-35). Naquele episódio, Jesus celebra com os dois os discípulos a partilha da Palavra e do pão para alimentar neles a fé na sua Ressurreição. Cada celebração, portanto, inspirando-se em Emaús, é encontro com o Senhor e cada encontro com o Senhor, na celebração, é fonte de vida nova na fé.  Tal realidade da Liturgia não pode se limitar, evi...

A comunicação e a linguagem multisensorial da Liturgia

A Liturgia não é uma sessão de verbalizações sobre Deus, uma espécie de palestra ou de conferência de temas religiosos ou de autoajuda com fundamentação bíblica. A Liturgia é celebração e seu elemento concreto, aquilo que faz a Liturgia acontecer na celebração, é a arte de saber se comunicar com uma linguagem multisensorial. A celebração litúrgica é uma arte que toca todos os sentidos. Podemos dizer, em termos comparativos, que a pintura e a fotografia, por exemplo, comunicam-se pela luz, atraindo o olhar. A escultura pode ser tocada; arte que se serve da visão e do tato. A música é uma arte que passa pelos ouvidos, não pelo olhar, e convida o corpo a dançar. E assim com a linguagem de outras artes. O processo comunicativo na Liturgia desenvolve-se com uma linguagem multisensorial porque toca, atinge, coloca em movimento, todos os sentidos. Num rito de ingresso (procissão inicial), por exemplo, comunica-se com a arte visual — símbolos levados na procissão de entrada — com a arte m...

Linguagem simbólica na Liturgia

A arte de comunicar-se bem consiste no conhecimento e na prática da linguagem. Um bom músico só se comunica bem quando conhece a linguagem e tem prática, depois de muito treino e ensaio, com seu instrumento. Assim como o músico precisa conhecer o instrumento, conhecer a linguagem e a técnica para bem se comunicar, o mesmo acontece com quem se dedica à arte da comunicação litúrgica: necessita conhecimento da linguagem litúrgica.             Ao se tratar da linguagem litúrgica, estamos falando de uma linguagem complexa ou, melhor dizendo, da multilinguagem que compõe o processo comunicativo litúrgico presente na prática celebrativa. Estou falando da linguagem da música, linguagem oral, linguagem visual e, dentre outras, da linguagem simbólica. Este conjunto de linguagens faz com que a Liturgia situe-se no contexto de comunicação artística. Por isso, é preciso conhecimento e senso artístico para se comunicar bem com a comunicação li...

Aprender a celebrar celebrando: a sensibilidade celebrativa

A vivência da Liturgia acontece pelo fazer celebrativo. É celebrando que se aprende a celebrar adequadamente com os princípios e as normas litúrgicas e, principalmente pela prática ritual da linguagem litúrgica, possibilitando uma comunicação litúrgica eficaz. Para isso é necessário experiência e conhecimento da linguagem litúrgica, que produz competência, conhecimento, zelo pela celebração, sensibilidade litúrgica e sensibilidade celebrativa.             A questão da sensibilidade é de vital importância, seja a sensibilidade litúrgica como a sensibilidade celebrativa. Sensibilidade tem a ver com sentido, com sentimento. Aqui é preciso uma distinção psicológica entre sentimento e emoção. A sensibilidade celebrativa, por exemplo, não se limita à reação emotiva, mas tem a ver com sentimento, com aquilo que não é apenas efervescência emocional, mas com aquilo que permanece, que compromete, que se transforma em vida. A sensibilidade ...

A Liturgia na vida do sacerdote

O padre, porque lida com as coisas de Deus, deve estar próximo de Deus para partilhar a vida divina com quem celebra os sacramentos, os momentos de oração ou ritos de piedade (bênçãos, funerais, adoração ao Santíssimo...). Quanto mais intimidade com Deus o padre tiver, mais facilmente poderá conduzir os celebrantes ao encontro com Deus na celebração litúrgica.             Deste pressuposto, pode-se dizer que não existe celebração mais ou menos bonita, porque todas se tornam bonitas quando o padre favorece nos celebrantes o encontro com Deus. Não se trata de criar, apenas, um clima emocional para despertar sentimentos fortes, mas de favorecer o encontro com Deus no modo de celebrar. E para isso, a santidade de vida do padre é imprescindível, particularmente manifestada pelo zelo e pelo carinho com que trata a Liturgia e como se coloca em oração quando preside as celebrações. A santidade na vida sacerdotal é um exercício de conta...

A Liturgia é a Oração Litúrgica da Igreja

A série de artigos sobre a espiritualidade litúrgica, que tenho publicado aqui, no meu blogger, tem duas finalidades práticas. Uma, chamar atenção para aquilo que torna a celebração, não apenas uma ritualidade religiosa, mas momento orante. A outra, insistir no fato que a Liturgia é a pedagoga do crescimento na vida cristã e isto acontece na e pela escola da espiritualidade litúrgica. As celebrações litúrgicas não se resumem em ritos e em “criatividades” para atrair ou agradar os celebrantes, além disso, são essencialmente momentos orantes e escola da espiritualidade para a vida no discipulado do Evangelho.   Uma das características mais marcantes, do ponto de vista litúrgico, é compreender que a Liturgia é a Igreja em oração. Através da sua Liturgia, a Igreja participa da oração do Coração de Jesus rezando no meio do mundo. É o Coração de Jesus orante, mediador e Sumo Sacerdote, que pela oração de seus membros, alcança todas as partes do mundo para elevar a glorificação ao Pai ...

A Liturgia: oração da Igreja

A celebração litúrgica se caracteriza também como momento orante da Igreja. Aliás, trata-se de uma das mais importantes características da celebração litúrgica. Diria que é preciso conhecer muito bem a Liturgia para fazer da celebração uma oração pessoal e comunitária assemblear. Conhecer bem a Liturgia, conhecer o processo comunicativo litúrgico para transformar a celebração, especialmente a Liturgia Eucarística, em clima de oração. É mais fácil, por exemplo, um padre ser animador da Missa que condutor orante de uma assembléia. Hoje, por exemplo, percebe-se que existe oração nas celebrações, mas quase que paralelo ao processo comunicativo e ritual da Liturgia, como as preces de cura, em qualquer momento da celebração; em alguns casos, reza-se com música em excesso (cantorias) ou com dinâmicas de envolvimento emocional. Estes exemplos favorecem a compreensão da dificuldade de rezar com o rito litúrgico em si.             A emoção...

Participação dos fiéis na Liturgia

Todos os celebrantes, fundamentados na Teologia do Sacerdócio Comum dos Fiéis, têm o direito e o dever de participar ativamente da Liturgia da Igreja, em suas celebrações. Inspirando-se na etimologia da palavra “participação” — “pars + in + actio” — que se traduz como “tomar parte”, “estar presente na atividade”, se “fazer presente”, entende-se a participação litúrgica, num primeiro momento, como acolhimento e presença física dos celebrantes na celebração. Uma segunda compreensão de participação é aquela que se denomina “participação ativa”, entendida como envolver-se na celebração, cantando, rezando, silenciando... estar presente na atividade celebrativa naquilo que compete a cada um, seja em nível ministerial que assemblear. No caso da celebração Eucarística, por exemplo, isso é claramente determinado na Instrução do Missal Romano (IGMR Do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, compreende-se a participação como inserção — aquele que está inserido, que toma parte — no Misté...

Dimensão orante da Liturgia

Dentre as várias dimensões presentes na Liturgia, a dimensão orante ocupa certo destaque por considerar a Liturgia como a oração da Igreja; oração celebrada na Igreja e pela Igreja. É no contexto da dimensão orante que, de modo natural, podemos dizer, vincula-se uma dimensão central da espiritualidade litúrgica. Nesta breve reflexão, duas dimensões que fazem da Liturgia uma escola de oração e a principal escola da espiritualidade da Igreja Jesus Reza Conosco Na Liturgia Jesus fez de sua vida uma oração constante e nunca interrompida com Deus, a quem chama de Abba (Pai). Agora, a oração filial de Jesus continua por nós e em nós, como diz Santo Agostinho, na e pela Liturgia. Assim sendo, podemos descrever a Liturgia como ação orante, como atividade orante pela qual a Igreja, Corpo Místico de Cristo, reza ao Pai com uma prece constante e nunca interrompida, oferecida por Jesus ao Pai, nosso sumo e eterno sacerdote mediador. A este propósito, vale a pena lembrar que o Papa Paulo V...

Criatividade litúrgica

A Liturgia acontece e se realiza concretamente na celebração com uma assembléia, por isso seria equívoco reduzi-la a textos e a normas, mesmo sendo parte da legislação litúrgica. A “actio liturgica” é a Liturgia em ato, na sua forma natural de acontecer e de ser celebrada. Por isso dizemos que a Liturgia pertence mais ao fazer, configurada na fala, no ouvir (silêncio), em gestos, em símbolos e sinais, espaços... que às prescrições para que seja bem celebrada. As normas litúrgicas — e disto a sua importância — servem para organizar e orientar a atividade litúrgica e garantir a ortodoxia da fé da Igreja nas celebrações. Em outras palavras, a Liturgia pertence à Igreja e é celebrada como Igreja. Não é uma atividade subjetiva ou pertencente a um grupo.             Neste contexto é possível considerar aquilo que se denomina de “criatividade litúrgica”. Termo nem sempre compreendido e bem utilizado em nossas comunidades. A criativida...

A Eucaristia é "fractio panis"

Um bom modo para compreender a Eucaristia encontra-se num dos seus primeiros nomes: “fracio Panis”. No início da história da Igreja, o nome dado à Missa, à celebração da Eucaristia, era “fractio panis”. Termo latino que se traduz como “fração do pão”.             O rito da “fractio panis”, na nossa Liturgia Eucarística, acontece pouco antes do rito da Comunhão Eucarística e é acompanhado pela invocação do Cordeiro de Deus. Trata-se de um rito litúrgico cantado — nem sempre respeitado em nossas celebrações — que descreve aquilo que o gesto da fração do pão representa: Jesus é o Cordeiro de Deus que oferece seu corpo para ser partilhado, repartido entre nós. É um gesto que descreve o sentido profundo da Eucaristia como doação da vida divina, que se reparte, que é partilhada, para que todos se tornem um só corpo em Cristo Jesus. Um gesto tão importante nem sempre com a valorização que deveria ter nos ritos da Missa porque muitos p...

O serviço divino na Semana Santa

A auto apresentação de Jesus como aquele que veio para servir e não para ser servido (Mt 20,28) encontra seu momento alto e sua plena realização na sua Páscoa ritual (5f Santa), na sua Páscoa dolorosa (6f Santa) e na sua Páscoa gloriosa (Sábado Santo e Domingo da Páscoa). Uma reflexão sobre o serviço divino, exercido por Jesus Cristo, nas principais celebrações da Semana Santa. Jesus, o servo obediente de Deus             O tema do serviço é totalmente pertinente na reflexão da Semana Santa. Está presente na Palavra do Domingo de Ramos, apresentando Jesus como servo obediente que, pela obediência ao projeto do Pai, fez da sua vida terrena um serviço em favor da vida humana. É o próprio Jesus que se apresenta como alguém que veio para servir e não para ser servido (Mt 20,28). Tal disposição de servir está simbolizada na sua entrada em Jerusalém, no Domingo de Ramos, montado num jumentinho, animal servidor, cooperador nos t...

Lembrando duas fontes da Liturgia

De tempos em tempos, como que folheando um álbum de fotografias, é interessante e importante relembrar algumas fontes da Liturgia, como por exemplo, o fato que nossa Liturgia ter sido criada pelos Apóstolos e pela Igreja primitiva, a partir das instruções do Senhor Jesus.             Nesta lembrança, não se pode esquecer que tanto Jesus como os Apóstolos, vinham de um povo que sabia rezar, que dedicava momentos do dia a oração ritual e pessoal. Lembramos que nossa Liturgia nasceu e cresceu num contexto orante; no contexto de uma comunidade orante. A Liturgia da Igreja nasceu bebendo na fonte da oração e isto determina uma das mais importantes características da celebração litúrgica: ser momento de oração comunitária eclesial. Trata-se de reiterar aquele predomínio orante da Liturgia, no sentido que somos uma Igreja que se reúne em Liturgia para rezar.             Uma segund...

O poder do serviço celebrado na Liturgia

Quem lida com PL conhece a etimologia da palavra “Liturgia”: serviço; serviço prestado ao povo. Liturgo é alguém que se dedica a servir o povo, diz o primeiro volume da coleção Anàmnesis. A prioridade do serviço litúrgico, sendo redundante nos significados, pertence a Deus. É Deus que, na Liturgia e pela Liturgia, dedica-se a servir seu povo. Jesus é o “diácono” divino, o servidor de Deus e dos homens. É a Liturgia como “Opus Dei”, o serviço de Deus. São noções que nos situam na proposta serviçal contida na Liturgia. A resposta humana ao serviço divino acontece em duas atividades. Primeiro pelo serviço laudativo e glorificador que a Igreja celebrante eleva a Deus; é o “sacrificium laudis” (sacrifício, no sentido de “oferta”; o louvor é um sacrifício, é um dom oferecido a Deus). O segundo momento deste serviço acontece no cotidiano da vida de cada celebrante que transforma sua vida em serviço fraterno. É o “sacrificium vitae”, a oferta da vida que acontece concretamente pelo serviço....