30 de dez. de 2015
Serginho Valle
No final deste ano de 2015, quero agradecer
a todos que me acompanharam no blogue e em outros meios das redes sociais e
desejar um feliz e abençoado 2016.
Lembro ainda que estarei entrando em
férias, no início de janeiro, por isso minhas publicações serão reduzidas e
dependentes das condições tecnológicas de onde passarei as férias.
23 de dez. de 2015
Nós vimos a sua glória!
dezembro 23, 2015 Serginho Valle
O Natal é, acima de tudo, uma acontecimento
salvífico e é isso que celebramos em nossas liturgias Natalinas. Na realidade,
todos nós vamos à igreja e, na assembléia litúrgica fazemos ação de graças
porque “nós vimos a sua glória”. A Liturgia do Natal, portanto, é uma grande
ação de graças que elevamos ao Pai, que nos concedeu a graça de “ver a sua
glória divina com os nossos olhos”.
A
Liturgia da Missa do dia, que celebramos em 25 de dezembro, proclama na
assembléia litúrgica o Prólogo do Evangelho de São João. É um texto que exige
atenção para ser bem refletir e meditado na celebração do Natal, dada à sua
densidade teológica e o profundo mistério narrado por João. Cada palavra e
frase tem um significado cristológico e uma relação com outras passagens da
Sagrada Escritura.
Por
que a Liturgia faz isso, no dia do Natal? Para mostrar a todos os celebrantes a
grandeza do mistério que celebramos neste dia. Procure compreender o que
significa “o Verbo (a Palavra de Deus) se fez carne”. Existe uma distância
enorme entre a Palavra de Deus (Dabar) que habita nas alturas e a “carne” (o
corpo) da pessoa humana. É a distância entre criador e criatura. E, no entanto
o criador assume a condição de criatura. Por isso, a Liturgia faz ação de
graças no Natal pela Palavra que se tornou gente.
Outra
parte diz: “veio habitar entre nós”. Por que Deus deixaria sua habitação divina
para morar em nosso meio? Por causa do amor e porque quer a nossa salvação. Ele
precisava fazer-se um de nós para que nós, através de sua morte e ressurreição,
readquiríssemos a vida divina. Na Missa do Dia, a Igreja intercede a Deus que
todos os celebrantes possam ter na sua natureza humana a vida divina. É a
divinização do homem. Mais um motivo de ação de graças.
João,
no seu Evangelho não narra a transfiguração de Jesus. Por que? Porque na
simplicidade do presépio, na ternura do recém nascido nós vemos a glória a
Deus. Quem crê, pára diante do presépio e, na contemplação própria daqueles que
são capazes de ver a beleza da vida nas coisas pequenas e simples, pode dizer:
“nós contemplamos a glória de Deus”. Está ali, naquela criança recém nascida.
A
bem da verdade, a Liturgia Natalina se reveste de alegria, de festa, de luz — e
precisa que seja feito deste modo — porque a glória de Deus está entre nós e
podemos contemplá-la com nossos olhos.
Este foi o modo mais original de desejar
feliz Natal ao mundo: nascendo como criança e permitindo-nos contemplar a
glória de Deus.
Só mesmo Deus para agir desse modo ao dizer a
toda à humanidade: Feliz Natal!
Feliz Natal!
Serginho
Valle
:
18 de dez. de 2015
Magnificat
dezembro 18, 2015 Serginho Valle
Primeira
palavra do cântico de ação de graças cantado por Maria, no momento da visita de
sua prima Santa Isabel (Lc 1,46-55). O texto do Magnificat é um resumo perfeito
da espiritualidade dos salmos, inspirado nos pobres, isto é, naqueles que se
colocam totalmente aos cuidados de Deus e têm em Deus a única segurança de suas
vidas.
Magnificat representa também a fonte
espiritual de Maria, Mãe de Jesus, que viveu em humilde disposição, colocando-se
totalmente a serviço de Deus. O canto Magnificat é o reconhecimento de que Deus
realizou maravilhas em sua vida.
Na Liturgia, o Magnificat é cantado
todos os dias pela Igreja, na celebração das Vésperas, durante a Liturgia das
Horas, reconhecendo que Deus guia a Igreja e nela realiza maravilhas. Em todos
os finais de dia, portanto, a Igreja canta o Magnificat para entoar um canto de
ação de graças por aquilo que Deus fez em seu favor no decorrer daquele dia. Deste
modo, a Igreja assume também como seu o cântico de Maria, reconhecendo em Maria
a primeira cristã, membro do corpo eclesial, que participa da glória divina.
O costume de cantar o Magnificat na
Liturgia das Vésperas, dizem os estudiosos, foi iniciado na Idade Média. Também
a Liturgia da Igreja anglicana canta o Magnificat na sua celebração vesperal.
Nas
celebrações solenes das Vésperas, o Magnificat é cantado ou proclamado de pé e,
o altar é incensando durante o canto do Magnificat. Antes de iniciar o canto do
Magnificat, por se tratar de um cântico evangélico, os celebrantes fazem o
Sinal da Cruz.
Duas citações do Magnificat na
Instrução Geral da Liturgia das Horas – IGLH
IGLH
50: — Magnificat é um hino de louvor da Igreja
Em seguida, diz-se solenemente, com
sua antífona, o cântico evangélico, a saber: para as Laudes, o cântico de
Zacarias (Benedictus); e para as Vésperas, o cântico da Virgem Maria (Magnificat).
Esses cânticos, ratificados pelo costume secular e popular da Igreja Romana, expressam
louvor e ação de graças pela Redenção. As antífonas do Benedictus e de
Magnificat é indicada conforme o dia, o tempo ou a festa.
IGLH
266: — Iniciar o Magnificat com o Sinal da Cruz
Todos fazem o sinal da cruz, da
fronte ao peito e do ombro esquerdo ao direito:
a) no princípio das Horas, quando
se diz: Vinde, ó Deus, em meu auxílio;
b) no início dos cânticos
evangélicos, Benedictus, Magnificat, Nunc dimíttis.
(SV)
16 de dez. de 2015
Missa é festa! - Que festa!?!
dezembro 16, 2015 Serginho Valle
Tenho certeza que você já ouviu, quem
sabe leu em algum livro ou revista que a Missa é uma festa. Quem falou assim
estava certo. Certissimo. É verdade que a gente quase não vê sinais de festa na
Missa, ao menos do jeito que nós brasileiros entendemos festa. Tem cantos,
ornamentos, às vezes se bate palmas, uma que outra vez acontece uma coreografia
ou dança... e termina por ai. Alguém já me disse que Missa é uma festa “séria”,
sem riso nem alegria, com pouco pão e sem bebida para os celebrantes.
Parece
verdade! Só que a Missa como festa tem outro significado e outra motivação. É a
festa da grande fraternidade e da grande comunhão. É o encontro com Deus e com
os irmãos para repartir o pão, o vinho, a vida. É uma festa onde sobra,
exagera-se, na comunhão e na partilha. É a festa da grande partilha. Um modo
gratuito de dividir o pão e o vinho, a paz, a oração, a alegria e,
principalmente, a vida. Na verdade, a festa da Missa proclama que repartir a
vida e fazer comunhão com Deus e com os irmãos é a grande festa do viver e do
sentido da vida.
Você
começa a entender essa festa quando sente a presença de Deus dividindo com você
e no meio da gente. “Ele está no meio de nós”, não é isso que aclamamos várias
vezes na Missa? É uma festa sentir Deus repartir sua Palavra, o pão, a paz e
serenidade durante aquele momento de celebração. É uma Páscoa; é Deus passando
no nosso meio e dividindo vida. Que festa! Que bela festa!
Tudo
bem, até posso aceitar sua contestação quando me diz que toda festa tem fartura
de comida e bebida. Concordo com você, mas em parte. Tem... e não tem... Se for
fartura de comer e beber à vontade, isso não tem. Mas se é fartura de pão e
vida para todo mundo, aí sim, a Missa é uma grande fartura. Distribui-se o pão
da vida para todos. Cada um tem um pedaço e Deus se faz todo inteiro em cada
um. É fartura de pão, de vida, da partilha. Que festa! Quando isso é aprendido
e colocado em prática no depois da Missa, então você entenderá que a Missa
transforma a vida comunitária numa grande festa de viver dignamente.
Serginho
Valle
11 de dez. de 2015
Um modo de participação ativa
dezembro 11, 2015 Serginho Valle

Existem vários
modos de participar ativamente da celebração. Um deles é tomando parte das
respostas e das orações, como orienta a IGMR 34:
Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de
índole “comunitária, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e
os fiéis reunidos, bem como as aclamações, pois não constituem apenas sinais
externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o
sacerdote e o povo. (IGMR 34).
A
participação nas orações e nos diálogos rituais, tomando parte das respostas, é
de suma importância para que a celebração possa acontecer de modo vivo e em condições
de envolver a todos. Mas, trata-se de um modo de participação, porque existem
outros, como por exemplo, o cantar, as posições corporais, o silenciar...
Este
tipo de participação, nas respostas e orações, é denominada de “participação
ativa”, porque empenha os celebrantes a tomarem parte da celebração ativamente.
Esta participação tem ainda outro aspecto que merece atenção. No tempo que a
Missa era em Latim, pelo fato de não se compreender o que se dizia, muitas
pessoas rezavam o terço ou faziam novenas no decorrer da celebração. Trata-se
de uma prática que, hoje, no modo celebrativo como acontece a Missa, perdeu seu
sentido, uma vez que todos compreendem e conhecem as respostas celebrativas.
Hora da Missa não é hora de rezar o terço ou de fazer outras devoções. Na hora
da Missa todo são chamados a se ocuparem unicamente com a celebração
Eucarística, seja nesta participação ativa das respostas e orações, seja em
outras formas participativas.
Serginho Valle
9 de dez. de 2015
Assistir Missa?
dezembro 09, 2015 Serginho Valle
Tem gente que não muda mesmo! Já faz tempo, mais de 50 anos, que
não se usa “assistir Missa”, mas alguns insistem ou por hábito ou, talvez, por
não entender que a Liturgia mudou, em falar que vão assistir Missa. Lá vão eles
para a Missa como se fossem a um teatro para ver o padre rezando na frente
deles. Ou, como me dizia um jovem: “para ver o padre rezar pela gente”.
Talvez você não lembre, mas há alguns anos
atrás, de fato, a Missa era celebrada de modo a favorecer a assistência. Não
que se parecesse com teatro, em absoluto, mas era feita de tal forma que quem
estivesse na igreja, em duas palavras, assistia o padre e ouvia o coral. O
padre ficava na frente do povo, sem olhar para o povo, porque estava voltado
para o altar e fazia as suas orações em latim, ajudado por um ou dois coroinhas.
O coral? Sim, sempre tinha um coral que cantava a mais vozes e que, naqueles
tempos, encatava com a bela música litúrgica. Alguns, não generalizemos, não
eram lá aquelas coisas. Neste caso, assistia-se a Missa enquanto o ouvido
sofria com as desafinações.
Hoje mudou.
Você não vai à igreja para assistir o padre celebrar a Missa. Você vai para
participar da Missa. Por isso, se alguém disser “assistir Missa já era”, ele
está certo. Passou esse tempo. Hoje se diz: “participar da Missa.” Mas,
gostaria de fazer uma ressalva: a assistência como forma de participação.
Assistir também
pode ser uma forma de participar
A assistência é uma foma participação,
repito. Considere, por exemplo, a assistência de um esporte: quando se entendo
o que acontece no campo de jogo acontece a vibração e a particiação; quando não
se entende, acontece a indiferença. Alguém como eu, que gosta de futebol, vibra
assistindo a uma partida de futebol, mas se torna totalmente indiferente diante
de uma partida de, por exemplo, rugby, porque não vê graça nenhuma naquele
jogo. É um jogo que nada provoca em mim. Por isso, podemos considerar que
existe “participações ativas” e “presenças indiferentes” numa celebração. É
sobre esta presença indiferente que me refiro aqui. Isto pode ser experimentado
também no teatro, no cinema. Um bom filme é assistido com a participação
emocional e, não poucas vezes com expressões físicas, como o choro, o riso, o
suor frio (filmes de terror). Existe, portanto, uma assistência que é
participativa e uma assistência que impede a participação pela indiferença.
Isto tem um peso em toda a celebração, mas consideremos
o exemplo das homilias. O ouvir a homilia é uma forma de assistência
participativa. Quando a sua assitência agrada, existe uma participação
silenciosa, que toca a vida do ouvinte. Quando a homilia desagrada, torna-se
uma assistência desinteressante, e o ouvinte torna-se indiferente, ou seja,
nega algum tipo de participação e se desliga do que o padre está falando.
O que é participar
de uma celebração litúrgica?
Tanto na Liturgia
da Missa de ontem, como na de hoje, há uma participação que sempre existiu: a
participação na Salvação divina. É fácil entender. Participar significa “tomar
parte” em alguma coisa. Então, pense comigo. A celebração da Missa é a
celebração da Páscoa de Jesus Cristo, a celebração da Salvação de Deus. A
conclusão é simples: você participando da Missa “toma parte” na Salvação de
Deus, toma parte no Mistério Pascal de Cristo. Esta é a participação mais
importante, que faz com que os celebrantes tomem parte, se sintam envolvidos e
tocados pela Salvação divina, celebrada na Eucaristia.
Tem também um outro
modo de participação, que denominamos de “participação ativa”. Antigamente, a
comunicação na Missa favorecia, na maior parte das vezes, uma participação que
podemos denminar de passiva, através da assistência. Hoje a Liturgia exige
mais. Pede atividade na celebração: estar presente, rezar em voz alta, cantar,
fazer gestos, procissões, bater palmas, fazer silêncio... são modos e
expressões de participação ativa.
Serginho Valle
4 de dez. de 2015
Oblatas - oferendas
dezembro 04, 2015 Serginho Valle
Oblatas,
palavra de origem latina “oblatus” que, por sua vez, é o particípio passado do
verbo “oferre”, que significa “oferecer, apresentar”. Na origem da palavra
“oblata”, que no contexto se entende também a oferta ou a oblação, encontra-se
o gesto oferente (ou oferecedor) de apresentar a oferenda.
Na
Liturgia Eucarística, as oblatas, que em português se traduz como “oferendas” são
o pão e o vinho, apresentados no início da Liturgia Eucaristica (IGMR 73),
levadas ao Presidente da celebração, no rito da procissão das oferendas.
A
mesma IGMR 73 lembra que, antigamente, as oferendas eram trazidas de casa e
ofertadas à Igreja no momento da preparação das oferendas. Quem presidia
escolhia a oferenda mais apresentável para ser consagrada. As oferendas que
sobravam (pão, vinho e outros gêneros alimentares) eram distribuídas entre os
pobres. Hoje, este gesto é feito pela coleta de dinheiro ou de outras ofertas.
No
rito da preparação das oferendas, o padre as prepara com fórmulas de bênçãos,
com a incensação e o convite aos celebrantes para que intercedam a Deus o acolhimento
das oferendas da Igreja. A oferenda é concluída com a oração sobre as
oferendas, que em latim se chama em latim, “super oblata”.
Orientação da Instrução
Geral do Missal Romano – n. 73
Primeiramente
prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia
eucarística,
colocando-se nele o corporal, o purificatório, o missal e o cálice, a não ser
que se prepare na credência.
A seguir, trazem-se as oferendas. É
louvável que os fiéis apresentem o pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono
recebem em lugar adequado para serem levados ao altar.
Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o pão e o vinho
destinados à liturgia, o rito de levá-los ao altar conserva a mesma força e
significado espiritual.
2 de dez. de 2015
A Missa é minha, eu paguei!
dezembro 02, 2015 Serginho Valle
É
briga antiga. Mal e mal termina a missa, e tem alguém na sacristia esperando
pelo padre para tirar satisfação. “Pagou a missa” e quer saber porque o padre
não a mencionou na intenção. Vira campo de batalha se o padre incluir outra
intenção junto com a do “comprador” da missa. Já vi gente ameaçando colocar a
paróquia no Procom.
Para
início de conversa, é preciso dizer que a Missa é de todos, de toda a Igreja,
de toda a comunidade celebrante. Por isso, não tem sentido dizer que se “compra
a missa”, ou, como falaram a um padre, amigo meu: “queremos alugar o senhor
para rezar uma missa”.
Depois,
você precisa considerar o que significa e qual o sentido da intenção da
missa. Alguém que procura o padre, ou
responsável, para marcar uma intenção de missa, está fazendo um pedido, não uma
compra. Está pedindo que toda a comunidade reze com ele, ofereça com ele a
missa; pela sua intenção.
Veja
bem! Se você pedir para a missa ser celebrada na intenção de seu filho que
aniversaria, na verdade, você está pedindo ao padre e a toda a comunidade para
agradecer a Deus pelo aniversário de seu filho. Em algumas comunidades, antes
da missa, — especialmente nas missas de dias de semanas — num gesto muito
bonito, as pessoas vão dizendo em voz alta porque vieram celebrar: para
agradecer uma graça, para pedir saúde, por um parente falecido... E toda a
comunidade reza, celebra a missa rezando nas intenções anunciadas. Mas a missa
continua a ser de todos, nunca de uma única pessoa.
A
idéia de comprar a missa existe porque temos a prática de dar uma contribuição
pela celebração. Esta contribuição chama-se “espórtula”, ou oferta, que na
prática é um gesto concreto de agradecimento a toda a comunidade que reza com
ele, na sua intenção. Não é pagamento, é contribuição. A missa vale muito mais
que alguns reais, muito mais. Em tempos antigos, esta “espórtula”, que pode ser
traduzida como “oferta ou oferenda”, era feita em espécie, como por exemplo,
oferecer uma roupa para dar a um pobre ou algum alimento ou utensílio
doméstico. Com a troca desta oferenda para o dinheiro, passou-se à mentalidade
de compra. Mas, o sentido é outro: oferecer alguma coisa ao irmão pobre em
agradecimento aos irmãos e irmãs que rezam com ele na sua intenção, na
celebração Eucarística.
(Serginho
Valle)
28 de nov. de 2015
As velas da Coroa do Advento
novembro 28, 2015 Serginho Valle
Um
significado catequético e ilustrativo das quatro velas da coroa do Advento para
ajudar na compreensão e celebração de cada Domingo. De modo geral, sabemos que
cada vela representa um dos Domingos do Advento. Com o tempo as mesmas
começaram a ganhar nomes. Assim, a primeira vela chama-se VELA DO PROFETA,
considerando as profecias do nascimento de Jesus. A segunda vela é chamada de
VELA DE BELÉM, recordando o local do nascimento de Jesus. A terceira vela é
chamada de VELA DOS PASTORES, recordando sua visita ao presépio e a quarta vela
é a VELA DOS ANJOS, lembrando a festa angélica no dia do nascimento de Jesus.
Tais
significados promoveram a coloração das velas, a primeira vela é roxa, a
segunda vela é verde, a terceira vela é vermelha e a quarta vela é branca. De
minha parte, denominaria as duas primeiras velas da Coroa do Advento como VELAS
DA VIGILÂNCIA, considerando que os dois primeiros Domingos do Advento celebram
o anúncio e a vigilância em vista do final dos tempos. Por isso, duas velas
roxas, indicando tanto a vigilância como a penitência em vista da conversão. As
outras duas velas, eu as denominaria de VELAS DA ALEGRIA. A do 3º Domingo do
Advento, uma vela cor de rosa, por ser a cor litúrgica deste “Domingo gaudete” e,
a quarta vela de cor vermelha, pela proximidade do Natal, demonstrando alegria
e paz.
Em
muitos países existe ainda uma quinta vela na Coroa do Advento, chamada a VELA
DO NATAL. É uma vela maior (não do tamanho do Círio Pascal), artisticamente
trabalhada para representar a luz divina que trouxe o nascimento de Jesus.
A
coroa do Advento tem a finalidade de indicar a proximidade do Natal, por isso
remete à preparação espiritual do Natal. A mesma pode ser substituída por outro
arranjo simbólico, considerando os elementos básicos, isto é, as quatro velas e
as indicações natalinas.
Nos
dois primeiros Domingos do Advento, a coroa é simples, constando apenas com as
quatro velas. No terceiro Domingo, dada a celebração invocar a proximidade do
Natal, acrescentam-se bolas coloridas ou outros símbolos natalinos na coroa.
(Serginho
Valle)
25 de nov. de 2015
Qual padre celebra, hoje?
novembro 25, 2015 Serginho Valle
Algumas
comunidades têm mais de um padre. E como ninguém é igual a outro alguém, é
comum haver comparações. Preste atenção nas preferências. Um se agrada mais do
padre alegre, sorridente. Outro tem preferência pelo padre quieto, que celebra
de modo mais silencioso, que conduz a celebração pelos caminhos do silêncio e
não tanto pela animação de palmas e gestos. Tem aquele que se identifica com o
modo de um padre presidir batizados, de ouvir confissões, de celebrar a
Eucaristia. E tem outros que não o suportam. Questão de gosto, não de
discussão, é claro! Tudo muito natural; não há nada de errado nisso. Pode ser
uma questão de simpatia ou antipatia por alguém ou, simplesmente, uma
preferência pelo jeito de celebrar. E, além de tudo, cada padre, com seu jeito,
não celebra sozinho, celebra com a comunidade e a comunidade celebra com o
padre.
Vamos
procurar ligar alguns pontos. Primeiro: quem celebra não é o padre sozinho, ele
celebra com a comunidade, reunida em assembleia. Segundo: a celebração não é do
padre, é de toda a comunidade. Terceiro: o sujeito da celebração litúrgica é a
comunidade reunida em assembléia. Pode, então, surgir duas perguntas: se é a
comunidade quem faz a celebração, o que o padre faz lá na frente do povo
durante as celebrações litúrgicas? E na Missa; não é o padre quem faz a
missa?
É
fácil entender as razões. O sujeito da celebração, quem faz a celebração
litúrgica é a comunidade, a Igreja reunida em assembléia. O padre também faz
parte da comunidade. Ele fica lá na frente porque, na celebração litúrgica,
presta um serviço celebrativo: o serviço de presidir ou dirigir a celebração.
Na Missa, o padre é o presidente, não no sentido de que manda na celebração,
mas que preside a celebração. Isso não significa, em absoluto, que o padre seja
o dono da celebração. A celebração litúrgica, da Missa e de todos os Sacramentos,
pertence a toda comunidade reunida em assembleia, presença viva da Igreja,
embora o modo de presidir conte muito e quase sempre favorece ou impede uma boa
participação celebrativa.
O
modo de presidir tem a ver com o modo comunicativo da linguagem litúrgica.
Quanto a isto, infelizmente, nem todos os padres a dominam a contendo. Alguns
entendem que se comunicar bem na Liturgia é “apresentar” a Missa e, em vez da
presidência litúrgica, assumem o papel de animadores da assembleia, com
convites para bater palmas, levantar as mãos, cantar mais alto, além do
exercício visual de fechar e abrir olhos. Alguns fazem exatamente o oposto e
celebram de modo seco, quase como leitores de Missal ou de folhetos. Mas, este
é um assunto que voltarei oportunamente, quando tratarei da arte de celebrar.
Tem ainda, e não
em pequeno número, aqueles padres que dominam a arte da comunicação litúrgica.
São aqueles que sabem dosar a palavra e o silêncio, conhecem o tom afinado para
se cantar na celebração e equilibram a participação dos celebrantes com
palavras, silêncios, canções e gestos próprios e comedidos para cada rito.
Celebração bem presidida não aquela na qual se excede em canções, palavras,
silêncios ou gestos e ritualidades, mas aquela que obedece o equilíbrio
celebrativo proposto pela Igreja, para favorecer a oração, a reflexão e a
adoração.
Serginho
Valle
20 de nov. de 2015
Hagios o Theos
novembro 20, 2015 Serginho Valle
“Hagios o
Theos” é uma antiga expressão grega usada como refrão durante os impropérios
(lamentações) da Sexta-feira Santa. A tradução literal é “Ó Deus Santo”. Esta
aclamação “hagios o Theos” mantém relação com outras aclamações gregas, na
Liturgia, como por exemplo o “Kyrie eleison”, traduzido em português como
“Senhor tende piedade de nós”.
O refrão “hagios
o Theos” deriva do hino de louvor a Javé, que se encontra em Is 6,3 e, também
no Ap 4,8. Muitas fontes da História da Liturgia confirmam que a expressão “hagios
o Theos” — Ó Deus Santo, Santo e poderoso, Santo e imortal, tende piedade de
nós — foi composto pelo Patriarca Proclo (434-446). Um hino composto igualmente
para combater as heresias, fazendo assim com que a Liturgia reze aquilo que crê
e, pedagogicamente, confirme os celebrantes na fé.
18 de nov. de 2015
Cerimônia ou celebração?
novembro 18, 2015 Serginho Valle
Em tempos idos, a Liturgia era
considerada a cerimônia oficial da Igreja. Era no tempo que os católicos iam à
igreja para assistir Missa, ver batizados, ver a crisma... Era comum, pois,
ouvir falar em cerimônia da Missa, cerimônia do Batismo, cerimônias religiosas.
Antes de continuar, gostaria de
fazer um parêntesis, para considerar um dado. Do ponto de vista da teoria da
comunicação, a assistência é considerada uma forma de participação. Trata-se,
contudo da assistência empática ou simpática; não apática. Nos dois primeiros
casos, empática e simpática, o assistente participa (toma parte) do que vê e
escuta, como por exemplo, numa competição esportiva ou num cinema; ele não
compete, mas se emociona com o acontecimento e participa pelo envolvimento
emocional. Como ainda, na assistência de um filme, que toma parte das cenas de
modo empático, sofrendo, rindo, sentindo medo, criando expectativas com as
cenas. Diferente é a assistência apática, na qual se vê um fato e nele se é
incapaz de tomar parte. Está presente, mas é indiferente porque sabota a
participação. A apatia é um impedimento à participação. É desta assistência que
estamos nos referindo em casos de celebrantes que permanecem alheios a tudo. A
pessoa não celebra, não se faz celebrante.
Há 50 anos, com o Concílio Vaticano
II, a Igreja mudou o modo de entender a Liturgia. Você que freqüenta a Liturgia
não ouve (não deveria ouvir) mais falar de cerimônia litúrgica. Hoje se diz
celebração litúrgica; celebração da missa, por exemplo, celebração do Batismo,
celebrar a Penitência. A Liturgia não é uma cerimônia, embora feita de ritos,
mas que é apresentada por alguém. A Liturgia é celebração porque envolve quem
nela se faz presente.
A cerimônia diz respeito ao modo
exterior de um ato ou de atos ritualizados. Uma série de ritos que alguns
realizam e outros assistem. Pede presença, mas é possível não ter algum
envolvimento, ou ter um envolvimento protocolar como, por exemplo, aplaudir
algum discurso. Celebração, ao contrário, envolve a vida e exige participação.
Não se pode pensar em celebração sem participação, porque a participação é uma
exigência da celebração; é algo intrínseco ao celebrar. A cerimônia está ligada
a formalismos e prescrições. Alguém faz, outros assistem e mantém uma certa
distância. Vê ritualismos, mas não toma parte nos ritos. É fácil perceber a
diferença entre cerimônia e celebração e mais fácil ainda é sentir esta
diferença. Mas, o mais importante está no fato que toda celebração está ligada
à recordação de algo importante, seja um acontecimento, seja uma pessoa. Por
isso, na Liturgia celebra-se um acontecimento, celebra-se uma pessoa. Celebra-se
o acontecimento da História da Salvação e celebra-se a pessoa de Jesus,
celebra-se a ação divina no meio do povo e celebra-se o próprio Deus agindo no
povo.
A este ponto é evidente que não é possível
confundir Liturgia como a cerimônia oficial da Igreja. A Liturgia é mais que
cerimônia; é memória: recorda uma pessoa: Jesus Cristo; recorda um
acontecimento: o Mistério da Salvação de Deus. Cerimônia não rima com Liturgia.
Afinal, nós não fazemos cerimônia a Jesus Cristo nem à Salvação. Fazemos memória,
no sentido teológico de “memorial” de tornar atual; atualizar. Memória com o
significado de “recordar”, da palavra latina “re+cordis”: trazer de novo para o
coração dos celebrantes, para o coração da Igreja, para o coração do mundo. Na
Liturgia, portanto, celebramos Jesus Cristo, celebramos a Salvação, celebramos
nossas vidas com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Serginho Valle
16 de nov. de 2015
Gaudete - Domingo gaudete (3º Domingo do Advento)
novembro 16, 2015 Serginho Valle
Guadete é uma palavra de origem latina que
significa “alegrai-vos”. É o convite da antífona de entrada do 3º Domingo do
Advento, que expressa a alegria pela proximidade do Natal de Jesus Cristo. Por
este motivo, o 3º Domingo do Advento é também conhecido como “Domingo gaudete”
— Domingo da alegria. Esta alegria, no 3º Domingo do Advento, não se expressa
somente pela proclamação da antífona de entrada, mas também pelo discreto uso de
flores no espaço celebrativo e pela cor rósea, presente nos paramentos
sacerdotais, diaconais e nas vestes celebrativas de quem irá exercer algum
ministério na celebração.
O uso discreto de flores tem um
motivo simbólico: expressar a alegria espiritual da Virgem Mãe. Uma alegria que
ainda não pode ser totalmente extravasada, como de uma mãe que está grávida,
que não saltar de contentamento, mas está alegre, feliz de modo moderado, pois ela
e a criança precisam de cuidados especiais. É aquela alegria que enche o
coração, mas que ainda não pode ser dançada. É uma alegria acalmada, apaziguada
que transborda no sorriso e na serenidade do rosto.
Ainda no 3º Domingo do Advento é acontece
o primeiro anúncio do Natal. Os dois primeiros Domingos do Advento são
destinados à preparação da 2ª vinda de Jesus. De onde não ser litúrgico
preparar o espaço simbólico, por exemplo, com motivos natalinos, logo nos
primeiros Domingos do Advento. Nos dois primeiros Domingos do Advento, o espaço
simbólico tem unicamente na coroa do Advento sua manifestação principal,
indicando a luz da vigilância, em vista do anúncio do final dos tempos. É,
pois, no 3º Domingo do Advento, que a Igreja começa a se alegrar com a
proximidade do Natal de Jesus Cristo, manifestando-se com flores, com a cor
rósea e com os primeiros sinais do Natal, no seu espaço celebrativo.
Cf. IGMR: 347
Serginho
Valle
4 de nov. de 2015
A Liturgia mudou!
novembro 04, 2015 Serginho Valle
Os mais novos não
lembram. Quem está na faixa dos 30 aos 35 também não lembra como era celebrada
a Liturgia há anos atrás. Já ouviram falar que a língua litúrgica era o latim.
Escutaram os antigos dizer que os padres celebravam a Missa de costas para o
povo.
Alguns chegam até mesmo a se rejubilarem não terem vivido naqueles
tempos, porque, segundo contam seus avós, a Missa era bem mais longa que hoje em
dia. Muita coisa mudou mesmo, em termos de celebração litúrgica.
Mudou no jeito de celebrar, é claro.
O modo de celebrar era diferente, mas a razão pela qual se celebrava sempre foi
a mesma em todos os tempos.
Mudou muita coisa: o local do altar mudou; antes era
colado na parede do fundo da Igreja, agora está na frente, visível a todos.
Mudou o espaço ocupado pela presidência do padre. Antes era lá em cima, perto
do altar, agora, ele está mais próximo do povo e preside boa parte da
celebração da cadeira presidencial.
Mudaram os paramentos do padre. Antes o
padre usava de cinco a seis peças para celebrar a missa. Hoje o padre usa duas
ou três, a túnica, a estola e a casula.
Tantas coisas mudaram na celebração.
Mudou também o jeito de entender a celebração. Há anos atrás se dizia: “eu vou
assistir a Missa”. Hoje se diz: “eu vou participar da Missa”.
Verdade que
alguns ainda insistem em falar “assistir missa”, mas ou é por costume, ou é
porque ainda não prestou atenção que a Missa mudou e que não dá mais para ser
assistida de modo passivo.
Mudou o jeito do povo se comportar na Igreja. Antes
o povo ficava rezando o terço ou ladainhas ou fazendo novenas para santos e
santas durante a Missa. Hoje, não tem sentido rezar o terço durante a Missa,
por exemplo. Quem vai à Missa, reza o terço depois, faz as novenas outra hora,
mas não durante a missa. A Missa é celebração.
Mudou ainda
algumas coisas com relação à música. Antes o coral cantava a Missa praticamente
sozinho e o povo participação ouvindo. Eram cantos polifônicos, em latim ou em
português. O povo escutava. Era bonito (quando o coral cantava bem). Hoje toda
a assembleia é convidada a cantar ou a alterar canções entre o coral, o
ministério da música e a assembleia. Alguns não cantam, por desafinação, outros
por vergonha e outros porque ainda estão no modo antigo e preferem ouvir música
na igreja, embora o “ouvir musica” seja um modo de participar e até mesmo de
rezar.
Quanta coisa mudou na nossa Liturgia.
Quanta coisa! Leitura? Quem fazia leitura antigamente? Era só o padre. Lia em
latim. Poucos entendiam. Mulher fazer leitura? Nem pensar. Aliás, era até mesmo
proibido que a mulher subisse no presbitério, quanto mais ler. Hoje não, a
mulher lê na Igreja e recebem o ministério do leitorato.
E a distribuição da comunhão. Só
padre. Hoje os leigos ajudam na distribuição da Eucaristia; homens e mulheres.
Às vezes algumas pessoas não comungam com os ministros ... Por que será? Será
que pensam que Cristo é menos Cristo quando dado por um irmão ou irmã leigo? Ou
será que o Cristo da hóstia consagrada que o padre dá está mais presente? Fatos
assim indicam que muitos ainda precisam mudar, passando de expectadores para
celebrantes.
A Liturgia mudou não para ser “apresentada”
a uma assembleia celebrativa, mas para ser melhor participada e comungada.
Às
vezes, na ânsia de novidade, alguns padres ou ministérios celebrativos
confundem participação com animação e, em vez de celebrar orando, celebrando
com cantorias, gesticulações e palmas a todo instante e abolindo o silenciar.
Falo dos excessos. Não foi para isso que a Liturgia mudou. Mudou para ser mais
participativa, com um novo jeito de se comunicar celebrativamente, não para
transformar o padre em animador de auditório e os músicos, por exemplo, em
bandas.
Se a Liturgia mudou, há a necessidade de mudar algumas
mentalidades para entender o sentido e a finalidade das mudanças para celebrar
liturgicamente.
Serginho Valle Novembro de 2015
28 de out. de 2015
Reflexão para o dia de finados
outubro 28, 2015 Serginho Valle
Vivemos uma sensação de
segurança, que dia menos dia desaparece de nossos horizontes. Até há pouco
tempo atrás, por exemplo, nossos governantes diziam que tínhamos encontrado o
caminho certo e que a vida dos brasileiros caminhava para o paraíso, incentivando
todos ao consumo. Como um castelo de areia que se desmonta com a água que
lentamente chega à praia, assim começou a ruir as esperanças de milhões de
pessoas. Vale, neste caso, a verdade daquele provérbio latino que diz: “sic
transit gloria mundi!” (Assim passa a glória do mundo).
Nem
tudo é governável no mundo e nem na vida, nem mesmo a prepotência arrogante de
dizer que o futuro está em nossas mãos, principalmente quando estas mãos não
são limpas, mas manchadas pela ganância que contamina e conduz à corrupção. Não
se pode projetar o futuro em cima de caminhos de pecado que condenam à morte
milhares de pessoas. Com o que foi roubado por um único ladrão do petrolão, por
exemplo, seria possível garantir a saúde de milhares de pessoas. Todos os
homens e mulheres morrem; esta é a nossa única certeza na vida, mas contribuir
com a morte de milhares de pessoas por causa da ganância, eis um pecado que
clama aos céus. De um país que se dizia fraterno e acolhedor, nos tornamos um
país sujo, corrupto e corrompido com uma pena de morte que condena milhões de
pessoas a viver na incerteza do que comer no dia de amanhã.
“Quem
entrará na casa do Senhor?”, interroga o salmista, e logo em seguida ele mesmo
responde: “aquele que tem mãos limpas e inocente o coração” (Sl 24,4). E
continua, “aquele que não dirige sua mão para o crime...” Viver assim, com as
mãos limpas, é cultivar no coração o mesmo desejo de Jó: “depois que minha pele
será destruída, verei a Deus” (Jó 19,26). O mesmo Deus que contemplamos no
rosto dos pobres (Mt 25,35ss), que contemplamos estampado nos momentos de amor
com nossas famílias e nossos amigos, nos sorrisos de alegria celebrando a festa
da vida, nas emoções de conquistas... Ora, tudo isso foi, de certa forma,
roubado de nós. Os corruptos do governo e das empresas são também os ladrões de
nossas seguranças e de nossa alegria porque semearam a desconfiança e o medo do
futuro. Não são gente de bem, são corruptos, isto é, corrompidos pela ganância
destruidora da vida dos outros. Se deixaram levar pela tentação da idolatria do
dinheiro porque seus corações não eram da verdade e nem do bem.
Na
celebração que comemoramos nossos falecidos, no próximo 2 de novembro, queremos
agradecer a Deus pelo dom da vida daqueles homens e mulheres que dedicaram suas
vidas para o bem do povo, mesmo que tenha sido de modo simples, no seio de
nossas famílias e no meio de nossas comunidades. Agradeceremos também aqueles
que honraram sua dignidade política para o bem de seus cidadãos. Hoje,
repudiamos o veneno da morte e o fedor cadavérico que os corruptos jogaram no
meio de nosso povo. Por causa deles, por causa deste horrível e execrável
pecado social, hoje precisamos rezar por aqueles que morreram nos hospitais
públicos, porque o dinheiro que salvaria suas vidas foi roubado por um
ganancioso que já tinha demais.
Não
queremos vingança, porque esta palavra não tem espaço nem no dicionário e tal
atitude não habita o coração de um cristão. Queremos sim justiça em nome
daqueles que morreram por causa do pecado social da corrupção e que continua
matando a vida de nossa gente, em nossos dias.
Serginho
Valle
21 de out. de 2015
Ícone e uso de imagens na Liturgia
outubro 21, 2015 Serginho Valle
Ícone é uma palavra de origem grega,
que significa imagem. Enquanto nós, na Liturgia romana, usamos estátuas e
pinturas em nossas igrejas e até em locais públicos, como praças e edifícios, a
Liturgia oriental optou pelo uso de ícones, os quais se revestem e se
fundamentam na Teologia simbólica. Dada sua riqueza teológica, hoje, muitos
artistas da Liturgia romana estão adotando a iconografia oriental em suas
obras, como é o caso do artista sacro brasileiro Cláudio Pastro. Neste meu blogger,
já tive a oportunidade de publicar uma matéria sobre a iconografia com o título
“Logomarca do Ano Santo da Misericórdia”,
onde detalho, inclusive algumas indicações de como olhar e entender um ícone, a
partir de suas cores, por exemplo. A logomarca do Ano Santo da Misericórdia é um
exemplo de como a iconografia oriental está presente em nossa Liturgia, graças,
como dizia, à sua fundamentação teológica.
A Teologia simbólica da Liturgia
Oriental descreve o ícone como “symbolon” que, no vocabulário litúrgico, designa
uma forma de presença divina. Na nossa Liturgia romana, o “symbolon”, palavra
de origem grega, foi traduzido para o latim como “sacramentum”. Não, portanto,
um mero sinal, mas um symbolon, uma presença ou, se preferirem, um modo de
presença. É neste sentido que a Teologia simbólica oriental considera os ícones
como sinais transparentes (visíveis e tangíveis) daquilo que representam, como
é o caso da Trindade, de Jesus Cristo, da Mãe de Deus (Theotokos), dos anjos e
santos, dos Mistérios da Salvação, etc...
A fundamentação da iconografia,
sempre no contexto da Teologia simbólica, está na encarnação, segundo as
definições do Concílio de Nicéia (787). Entende-se aqui o momento histórico, no
qual (como fazem alguns evangélicos atualmente) criticavam e perseguiam fortemente
o uso de imagens e de pinturas representando imagens divinas. Ora, uma vez que
o próprio Deus se faz “imagem”, se faz ícone, ao assumir a carne humana, na
encarnação — tornando-se assim imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26) — os
Mistérios divinos podem ser representados pela iconografia; podem ser
expressados não somente por palavras, mas também com imagens. O Filho
encarnado, Jesus Cristo, é a imagem perfeita do Pai (Cl 1,15). Disto os
teólogos simbólicos, na sua grande maioria, artistas da arte sacra e litúrgica
oriental, afirmarem que cada ícone é, antes de tudo, uma ação divina, uma
epifania divina através da arte humana. Cada ícone, nesta linha de pensamento,
é uma teologia visual, realizada em clima de profunda oração. A confecção de um
ícone, portanto, é bem diferente que fazer modelos ou formas de plástico para
fabricar imagens de gesso ou de outros materiais.
O iconógrafo, antes de produzir seu
ícone, entra em oração por um tempo, que pode ser dias ou semanas, faz jejum de
dias ou semanas, e espera o momento inspirador ideal para expressar sua
teologia e sua espiritualidade no quadro (na arte) de uma única vez. Isto
porque, cada iconógrafo tem consciência que não está produzindo uma peça
comercial, mas exteriorizando aquilo que Deus manifesta nele, através de sua
obra de arte. Cada ícone é fruto de meditações, contemplações e inspiração
divina. Assim, ele coloca seus talentos a serviço de uma obra divina, diante da
qual, pela admiração da arte, é possível se aproximar e penetrar no Mistério
divino.
Antes de ser usados na Liturgia,
cada ícone é abençoado e ungido com o óleo crismal, tornando-o uma peça consagrada,
isto é, um meio dedicado a se aproximar do Mistério divino. Na nossa Liturgia,
não temos a prática da unção de imagens, apenas a bênção de imagens, por razões
que, depois do exposto neste artigo, se entendem como óbvias.
Diferentemente de muitos aspectos da
arte sacra ocidental, os ícones, na Liturgia Oriental não são feitos para serem
admirados como obra de arte, mas enquanto obras de arte com a função de
alimentar espiritualmente a alma do orante através da beleza. Faço um
parêntesis para lembrar meu professor de Liturgia Oriental, no Santo Anselmo
(Roma), Padre Gelsi. Ele ficava muito incomodado ao ver ícones sendo
comercializados nas livrarias católicas de Roma ou servindo como decoração em
conventos e até mesmo em igrejas. Conhecendo a função do ícone, entende-se
facilmente sua “revolta”.
Como já descrevi no artigo citado
acima, sobre a logomarca do Ano Santo da Misericórdia, cada cor, trações e
espaços têm seu simbolismo, o mesmo acontece para gestos e para as posições das
figuras. Isto significa a necessidade de ser iniciado, de ter uma catequese,
para compreender o significado do ícone. O ícone é uma obra de arte orante, que
conduz à contemplação. Assim como a música, que em nossas celebrações deveria
ser obra de arte orante e favorecedora da oração, a função do ícone, na
Liturgia oriental, é de antecipar e trazer para diante dos olhos dos
celebrantes a beleza da presença divina entre nós e, num contexto escatológico,
reavivar o desejo de viver na Jerusalém celeste, a bela e artística cidade
descrita no Apocalipse por João (Ap 21,1-22,5). Os ícones, portanto, do ponto
de vista pedagógico celebrativo, como que acostumam os celebrantes a conviver
com santos, anjos, com a Mãe de Deus, com o próprio Jesus Cristo. Uma beleza
provisória, diga-se, porque simbólica, mas que continuamente remete ao que um
dia será eterno.
(Serginho
Valle)
14 de out. de 2015
Faldistorium
outubro 14, 2015 Serginho Valle
Faldistorium
significa originalmente “cadeira dobrável”. Numa tradução mais livre, pode-se
dizer “cadeira de lona”. No mobiliário litúrgico, o faldistorium é a cadeira do
bispo, não a cátedra, mas uma cadeira móvel, usada em alguns ritos litúrgicos,
quase sempre na frente do altar, como por exemplo, nas ordenações. Uma vez que
a cátedra episcopal, na Idade Média, era posicionada na lateral do presbitério,
havia necessidade de uma “cadeira provisória” — faldistorium — para que o bispo
fosse visto durante alguns ritos litúrgicos.7 de out. de 2015
Liturgia é para celebrar não para ameaçar
outubro 07, 2015 Serginho Valle
Será
que a celebração por meio de profecias ameaçadoras é uma celebração cristã?
Sempre fico intrigado com quem usa a celebração para fazer promessas de
castigos divinos com ameaças para impor o Evangelho na base do medo.
Você liga o rádio e escuta alguém
prometendo castigo aos pecadores que não se convertem. Noutra estação, algum
profeta da teologia da prosperidade, promete miséria a quem não pagar o dízimo;
alguns pregam isso de forma positiva: “depois que comecei a pagar o dízimo
aumentou minha renda familiar”; como se a oferta do dízimo fosse uma troca
visando a prosperidade financeira e não fosse um gesto de partilha gratuita e
de agradecimento a Deus. Têm os catastróficos que, nas últimas celebrações do
Ano Litúrgico, quando se faz memória do fim dos tempos, fazem malabarismos exegéticos
para descrever Deus como um grande vingador e castigador que irá exterminar da
terra todos aqueles que não o obedecem. Será que esse tipo de contexto
celebrativo valoriza a celebração ou a deprime ou a descaracteriza?
Continuando em minhas interrogações
sobre este assunto, há algo que me entristece: é quando colocam Nossa Senhora
como profetiza de desgraças. Confesso que meu carinho para com Nossa Senhora me
deixa chateado de vê-la protagonista de ameaças e de recados catastróficos para
a humanidade. De vez em quando cai em minhas mãos uma daquelas mensagens que
dizem ser de Nossa Senhora prometendo uma ação terrível de Deus se não se fizer
isso ou aquilo. Sinceramente, a concepção materna que tenho de Nossa Senhora
não bate com a descrição de uma mãe proposta em atitudes de “madrasta” (como
caracteriza a Psicologia às mães que não assumem a maternidade), com açoite e
chicote nas mãos para ameaçar seus filhos com a morte e a destruição. Você já
reparou que as celebrações marianas sempre exaltam a bondade misericórdia de
Deus em favor do seu povo? Se assim a Igreja celebra a ação de Maria na
Liturgia, por que desvirtuar o foco?
Quando Jesus envia seus discípulos
para pregar o Evangelho, ele os manda totalmente desarmados. E quando se diz
desarmado, assim é de fato: não deveriam levar nem roupa e nem comida. Somente
o que fosse necessário para caminhar e anunciar o Reino de Deus. É verdade que
Jesus lhes concede poder sobre serpentes e sobre demônios. Para isso, a
Liturgia tem uma celebração, aquela de exorcismos. Disto, minha estranheza ao
transformar Missas em momentos de expulsão dos demônios, com atos penitenciais
infindáveis. Bem que Jesus poderia ter dado aos apóstolos super poderes, que
certamente impressionariam muito mais. Jesus, contudo, os enviou como pobres
andarilhos falando de um novo Reino. Jesus optou pela paz, simplicidade e
serenidade no jeito de falar e se apresentar e não pela publicidade “exorcizadora”.
A paz, a serenidade e a simplicidade fazem parte de nossas celebrações e é isto
que as caracterizam.
O
Mistério Pascal, que celebramos, continua dizendo que a glória de Deus não
acontece na morte e na destruição dos pecadores, mas na possibilidade de lhes
propor uma nova vida. Mais que prometer catástrofes, castigos e ameaças, Deus
enviou seu Filho para prometer a vida plena a quem dele se fizesse discípulo e
discípula. Isto precisa aparecer em nossas celebrações, caracterizando-as como
orantes, laudativas e propositivas da vida no discipulado.
(Serginho Valle)
5 de out. de 2015
Aclamação
outubro 05, 2015 Serginho Valle
Por
aclamação, na celebração litúrgica, entende-se uma intervenção breve de toda
assembléia para expressar sua adesão no rito que se realiza. Além da aclamação,
que manifesta a participação dos celebrantes pelo “amém” nas orações
proclamadas, as principais aclamações acontecem após a proclamação da Palavra,
antes e depois do Evangelho, nos refrões orantes da Oração dos fiéis, antes do
Prefácio, no decorrer da Oração Eucarística, na conclusão doxológica da Oração
Eucarística, depois do embolismo do Pai nosso e antes do envio que dissolve a
assembléia.
A
aclamação é um momento importante da participação dos celebrantes, feita de modo
verbal em diferentes ritos celebrativos. Em cada aclamação, os celebrantes
manifestam seu consentimento à obra divina realizada no durante celebrativo,
louvando, agradecendo, suplicando e comprometendo-se com aquilo que se celebra.
30 de set. de 2015
Celebração de santos e santas
setembro 30, 2015 Serginho Valle
A Igreja sempre celebra o Mistério
Pascal de Cristo. Esta é uma máxima da Teologia Litúrgica. Um modo de dizer que
nós, em todas as celebrações do Ano Litúrgico, especialmente na Eucaristia,
celebramos o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Isto vale também para as
celebrações que envolvem os santos e as santas. Dito de modo negativo: não
celebramos os santos e as santas dirigindo a eles nossas súplicas e louvores,
mas celebramos a vida de homens e mulheres, que chamamos de santos e santas,
por participarem plenamente do Mistério Pascal de Cristo e nele se
santificaram.
Na Igreja antiga, os catecúmenos,
antes de serem batizados, tinham nos mártires um exemplo do seguimento fiel do
Evangelho com a entrega da própria vida. Os mártires, ainda hoje, são
apresentados como exemplos de fidelidade, pois, perseguidos e ameaçados de
morte, não abandonaram a fé e entregaram suas vidas por amor a Jesus Cristo.
Eles participaram e participam plenamente do Mistério Pascal de Cristo até as
últimas conseqüências, entregando suas vidas por fidelidade ao projeto do Pai. No
rito do Batismo, e em outras celebrações sacramentais, a presença dos santos e
santas se faz presente como exemplo de vida cristã e como participantes na
intercessão da Igreja. A Ladainha, cantada ou recitada em algumas celebrações
tem, portanto, duas finalidades: mostrar o exemplo de vida de homens e mulheres
que se mantiveram fiéis ao projeto divino e, a presença dos santos e santas na
invocação de toda a Igreja, a terrena e a aquela que já vive com Deus, para que
o projeto divino aconteça entre nós.
Outra dimensão importante da
presença dos santos e santas nas celebrações litúrgicas encontra-se na doutrina
da “Comunhão dos Santos”, que professamos no Credo. Um modo de entender que
quando a Igreja celebra a Liturgia não a realiza somente aqui na terra, mas
também em comunhão com todos os santos e santas, isto é, com aqueles que formam
a Igreja triunfante, aquela parte da Igreja que já participa da santidade
divina. Isto está bem claro no convite para o canto do “Sanctus”; a conclusão
de todos os Prefácios diz: “por isso com todos os anjos e santos, cantamos”.
Como dito, a presença dos santos e
santas é presença suplicante. Já nos referimos à Ladainha de todos os Santos e
Santas, entendendo que os santos e santas, que vivem na Igreja celeste, rogam
por nós e conosco intercedem ao Pai. Mas, existe também a súplica presente nas
celebrações, especialmente presente na Oração Eucarística I e mais resumida nas
demais anáforas. Na anáfora litúrgica I, a Igreja faz memória daqueles que
viveram na fidelidade do Evangelho quase como um reforço diante de Deus, para
que atenda os pedidos da Igreja. A mesma dimensão de súplica se faz presente
nas celebrações com festas ou memórias de santos e santas. Todas as coletas do
santoral sempre intercedem ao Pai a graça de viver e participar da santidade
divina como aquele santo ou santa que se está celebrando (dimensão exemplar) e,
para que Deus atenda a súplica da Igreja com a ajuda intercessora dos santos e
santas.
Para concluir, um detalhe e uma
interrogação. O detalhe é quanto ao espaço celebrativo, nem sempre bem
considerado em nossas igrejas. Uma vez que a Liturgia não é dirigida aos santos
e santas, mas sempre ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo e, considerando o
que foi dito até o momento, de que os santos e santas intercedem em nossas
celebrações conosco a Deus, vale lembrar a prática de colocar as imagens ou
ícones dos santos e santas não na frente da assembléia (no presbitério), mas
nas laterais da nave. Este é um modo visível de entender que, do ponto de vista
teológico litúrgico, que os santos e santas são cristãos e cristãs exemplares
que ainda continuam participando da mesma assembléia litúrgica, embora na
dimensão celeste. Quanto à pergunta, faço a seguinte interrogação: diante de
tal proposta teológica litúrgica, considerando que toda celebração é dirigida
ao Pai, por que ainda se permite intenções de Missas em ação de graças a Nossa
Senhora ou a algum santo ou santa?
(Serginho Valle)
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